“As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade”.
Mário Quintana
A brincadeira é o espaço que junta os brincares. O brinquedo pode ser o resultado do brincar. Brincar é uma ação, é imaginar, criar, transformar, é libertar-se. É o momento em que a criança aprende a explorar o mundo que a cerca, recriar situações do cotidiano, a se comunicar e a ganhar confiança.
Para pais e professores, “Brincar” propõe estudo, amor, dedicação, disposição e entender a infância, recordar do tempo de meninice com tanto aprendizado, tantos afetos e, acima de tudo, a força e alegria no tempo de maturidade.
Há anos que o direito da criança ao brincar foi garantido: na Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ONU, em 1959, no Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, de 1990, que declara que “brincar, praticar esportes e divertir-se como aspectos que compreendem o direito à liberdade”. Em 2017, foi aprovada a atualização da Base Nacional Comum Curricular, BNCC, com seis direitos no ensino infantil, 2019: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se.
Podemos perguntar: “A escola de educação infantil é um lugar para se brincar, aprender ou para se aprender brincando”?
Para Vygotsky (2007) o brincar e o brinquedo têm um grande papel no desenvolvimento da identidade e da autonomia da criança. Ela, desde muito cedo, se comunica por meio de gestos, sons e de determinadas representações de papéis no brincar, desenvolvendo sua imaginação e interação com o mundo.
Pesquisadores e educadores em todo o mundo afirmam que brincar ajuda a enriquecer a aprendizagem, pois desenvolve habilidades essenciais, como investigação, expressão, experimentação e trabalho em equipe. É uma atividade que auxilia na formação, socialização, desenvolvendo habilidades psicomotoras, sociais, físicas, afetivas, cognitivas e emocionais, fundamentais para o aprendizado.
Pode-se constatar que o jogo, o brinquedo e a brincadeira são instrumentos mediadores no processo didático-pedagógico, são importantes ferramentas, auxiliares no desenvolvimento e estimulam a relação respeitosa da criança consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
É possível visualizar a transformação do contexto social, modificado e marcado por um estilo de vida acelerado, abarrotado de compromissos e atividades, espaços e tempos limitados, a introdução da tecnologia e do ambiente virtual, a violência e a insegurança causadas pelo crescimento acelerado das cidades e do consumo, todos esses são fatores contribuintes para a mudança no conceito de brincar na vida de nossas crianças.
De acordo com essa constatação, o educador passa a ocupar um papel primordial nesta situação, pois é na escola, e talvez somente na escola, que ocorram oportunidades para as crianças brincarem, portanto, necessita refletir sobre a questão do brincar, criando espaços e tempos que permitam a realização de jogos e brincadeiras, instituindo estratégias que permitam a promoção e evolução integral da criança. A criança que brinca desenvolve a criatividade, inteligência, emoções e muitas outras habilidades.
Brincar é coisa séria, está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento infantil e deve estar inserida no contexto escolar com o objetivo de auxiliar o processo de aprendizagem.
A criança reconstrói e representa sua realidade, seu cotidiano, inventa e reinventa situações, aprende a dividir e modificar regras, tem liberdade para agir, constrói riquíssimas relações com seus pares e juntos fazem descobertas e adquirem novos conhecimentos.
O brincar, enquanto primeira forma de cultura, enquanto atividade biológica essencial e espontânea da criança, sempre esteve presente em seu cotidiano, com o passar do tempo se transformou e agregou características específicas de cada povo em seu espaço e tempo, sendo perpetuado pela transmissão de geração a geração.
Acreditem na força do brincar. Acreditem que ele ensina, forma e desenvolve pessoas. O brincar é lindo porque é democrático. Ele pertence a todos, independente de classe social, cultura ou raça. Entregue para crianças materiais diversos como caixas, objetos de cozinha, cola, canetas ou qualquer outra coisa que venha na sua cabeça e que acredite que aquilo não tem qualquer relação com o brincar e veja o resultado.
Você vai se surpreender e ela vai ser muito feliz nessa experiência. Isso é brincar!
Susana Sobreiro Selistre Bonizio
Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil